Avançar para o conteúdo

O que queres ser quando fores grande?

Todos nós fomos atacados por esta pergunta quando eramos crianças e se nessa altura era razão para responder com grande convicção e entusiasmo, com o passar dos anos a resposta fica cada vez mais desfocada. Neste texto de opinião quero apresentar-te a melhor maneira de abordar esta questão à medida que falo um bocado da minha experiência e de como fiz a transição do mundo académico para o tecido empresarial. Portanto, se estás na iminência de fazer este salto, continua a ler, se não estás lê na mesma porque é melhor que estar a ver tiktoks.

Por onde começar?

Antes de partir à descoberta é necessário começares por ti, tens de fazer um exercício de reflexão e autoconhecimento para perceber efetivamente qual é o teu ponto de partida. Fazer uma análise SWOT pode ser vantajoso, colocar num papel 5 pontos fortes, 5 pontos fracos, 5 oportunidades e 5 ameaças. À primeira vista pode parecer simples e escusado, mas a verdade é que vivemos num mundo com um ritmo tão acelerado que parar e colocar um travão nessa velocidade pode parecer inútil, mas acredita não o é. É impossível construir uma casa sem as bases e os pilares necessários, é impossível uma árvore crescer se não tiver as suas raízes bem fundamentadas, é impossível crescer e evoluir sem começar pela base. Por isso, temos de saber preto no branco qual é essa base. Cada pessoa não é mais que o reflexo das suas vivências e, se tiveres noção daquelas que te marcaram mais, tens meio caminho andado na preparação deste salto.

CV como meio para a entrevista

Quando estiveres a fazer o teu CV não te podes esquecer do principal objetivo: conseguir uma entrevista de emprego. Portanto o CV é apenas um meio para conseguires passar a primeira triagem, mas aqui os números não são animadores. A realidade é crua e cruel. Alguns estudos indicam que os recrutadores não dispensam mais de 10 segundos antes de decidir se o candidato é adequado para a vaga ou não. O que significa que tens 10 segundos para brilhar, é caso para dizer “make it count”. Mas como? Fazendo, tendo feedback e adaptando. Não vai ficar bem à primeira, nem à segunda, mas o segredo aqui é melhoria continua através do feedback de amigos ou até mesmo de profissionais de RH. Para isso evita usar templates, evita copiar amigos, evita fazer algo que não te represente, faz algo original e único, como se fosse a tua impressão digital. 

Nunca fui fã do “one CV fits all”! Deves fazer pequenas alterações ao teu CV consoante a posição e empresa que te estás a candidatar. Usa as cores da empresa, algo simples, mas que distancia dos outros. Lê o que diz na descrição da posição e utiliza palavras-chave destacadas ao longo do CV. Lembra-te o CV é a tua proposta de valor, é diferente se estás a falar com uma grande empresa ou com uma start-up, portanto, a tua maneira de comunicar e apresentar também tem de ser diferente.

Em poucas palavras, adapta o teu CV consoante a empresa e a posição, “one CV does NOT fit all”.

Só encontra quem procura

O meu professor de gestão estratégica costumava dizer “não existem boas ou más decisões, existem decisões bem informadas e más informadas”, por isso é crucial que procures e tenhas boa informação da empresa e da posição. Podes adotar a estratégia de candidatar sem filtros a qualquer posição a ver qual cola, ou ser mais seletivo e candidatar a meia dúzia de posições em que sabes que seriam um bom match para ti. Sou da opinião que candidatar a alguma oferta de emprego tem de ser uma decisão pensada e não impulsiva, requer pesquisa, requer falar com pessoas, requer atenção e cuidado. Claro que a estratégia de mandar a rede e esperar que apareçam peixes é válida e tem resultados, mas não foi essa que adotei. Eu decidi ser mais seletivo, aprofundar a pesquisa, ir a todas as palestras onde a empresa estava presente, falar com trabalhadores da empresa, fazer perguntas, ter informação de qualidade, perceber a 100% onde me estava a meter. Essencialmente, estava focado, estava com a atenção toda ali e não distribuída por várias outras posições e isso permitiu-me distanciar dos demais.

Preparação is king

A entrevista é a tua oportunidade para finalmente te mostrares e contares a tua história. Abraça a oportunidade com entusiasmo e não tentes ser demasiado perfecionista, ninguém espera que tenhas 10 anos de experiência e que sejas um incrível gestor, o que tens de mostrar é que tens potencial e vontade de aprender. E aqui é que a preparação entra, porque uma coisa é estares a responder a algo pela primeira vez, outra coisa é teres uma resposta pensada, estruturada e com sentido. Participa em simulações de entrevista para ganhares conforto e prática e faz sempre, sempre o trabalho de casa. Explora o site, sabe a missão, a visão e os valores na ponta da lingua, vê as últimas publicações no linkedin, utiliza o glassdoor para perceberes o ambiente da empresa e como é que as pessoas que lá trabalham se sentem realmente… Mas o mais importante é encheres-te de coragem e mandares uma mensagem no linkedin a alguém da equipa que vais trabalhar ou simplesmente da empresa. Este ato de proatividade é fundamental para conseguires informação privilegiada para te distanciares dos outros candidatos. Um dos meus melhores professores na última aula da licenciatura disse: “acima de tudo, de agora em diante, tenham lata”, ou seja, tenham coragem e sejam arrojados e audazes. Um simples ato de ir falar com uma pessoa e pedir ajuda pode ter grande impacto na tua vida, portanto “just do it”!

O que queres ser quando fores grande?

A principal pergunta continua por responder, e assim continuará, porque na verdade a melhor resposta é “NÃO SEI ”. Não sei o que quero ser, e ainda bem que não sei, porque torna a vida e a procura muito mais interessante. O que eu procuro é ter diferentes experiências, é ter diferentes funções e alinhar o meu propósito com o trabalho, e não um emprego para a vida. A pandemia veio nos lembrar que o que é verdade hoje, amanhã já não o é, por isso quero argumentar que esta pergunta está completamente errada, não deveria ser “o que queres ser quando fores grande”, mas sim “o que queres ser quando cresceres mais 10 centímetros?”.

Carlos Vieira

Autor

in